quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os Ipês e os nossos sonhos


          Incrível como temos a capacidade de adquirir sentimentos que se distanciam no tempo e permanecem imunes ao esquecimento, criando uma ansiedade de valor único em nossa extensa capacidade de imaginar. 
Recordo-me quando no ano de dois mil e quatro deparei-me com uma movimentação um tanto quanto diferente na Avenida José Pereira do Nascimento, a principal da cidade de São Miguel do Araguaia-Go, no ponto que fica entre o Setor Oeste e o Setor Aeroporto, se estendendo do antigo prédio do Fórum - onde hoje está instalada a prefeitura da cidade - até próximo à Praça do Arco Iris, nome este atribuído em reconhecimento ao trabalho do então Governador do Estado Iris Rezende, que dentre outras benfeitorias, trouxe o sonhado asfalto.  
Ao longe avistei um grande número de pessoas reunidas próximas ao canteiro central da Avenida. Eu estava indo para o trabalho, e como todo bom curioso parei e perguntei: 
- O que está acontecendo? Algum acidente? 
-Não, responderam, estamos fazendo um mutirão para plantar arvores no canteiro 
Eram mudas de Ipê. Logo imaginei que dentro de quatro a cinco anos veria os Ipês florindo. O trajeto de minha casa até meu trabalho era feito dia após dia observando o crescer das arvores e com elas a nossa cidade! 
Lojas e casas residenciais em construção foram dando novo visual à avenida, e os canteiros onde antes só havia grama mostravam-se mais volumosos por folhas e galhos crescendo rumo ao céu. 
Certo ano, com as arvores já em porte adiantado, um evento foi promovido por um colégio particular em um dos canteiros - uma Feira Cultural com apresentações e exposições de diversas naturezas, como Música, Culinária, artesanatos, etc. Para que a festa estivesse mais segura e reservada, o canteiro foi cercado com palhas de coqueiro Babaçu. Por quatro ou cinco dias centenas de pessoas compartilharam do evento que foi realmente um sucesso. 
Na madrugada do ultimo dia de festa foi cometido um vandalismo inacreditável, quando colocaram fogo na cerca feita de Babaçu e com isto, várias arvores amanheceram parcialmente queimadas. O fato causou uma revolta muito grande na cidade e naquele dia tudo que se ouvia eram comentários sobre a capacidade de alguém ter a coragem de cometer um ato tão covarde. 
Mas o trabalho e a dedicação de várias pessoas logo surtiram efeito e rapidamente as árvores se recuperaram. O episódio foi o suficiente para alertar aos responsáveis por eventos, que desde então são instados a tomar providências eficazes para evitar que tais vandalismos voltem a ocorrer. 
Outros eventos aconteceram e os ipês continuaram a crescer. Depois do sexto ano minha esperança era ver as primeiras flores. Da janela do local onde trabalhava sempre observava se alguma das árvores já estaria a florir! Mas o ano se passou e eu não as vi. 
Muito aconteceu naquele ano de 2010, aliás, desde o plantio das mudas muitas conquistas vieram para nossa cidade. Obras como a construção do Hospital Municipal, pavimentação da BR-080, asfalto para o frigorífico com objetivo de adequação às normas para exportação, construção de casas populares, agencia do INSS, dentre outras. Poderia citar até muito mais. Tivemos algumas decepções, como o fechamento do frigorífico, que gerava emprego e renda e a construção da fábrica de Biodiesel que, apesar de pronta em dois mil e oito, nunca produziu sequer uma gota do famoso combustível. 
Minhas esperanças continuaram e mais uma vez vi chegar ansioso o ano de dois mil e onze. Veio à primavera e novamente não consegui registrar as primeiras flores dos Ipês, e uma das minhas curiosidades era saber se elas seriam amarelas ou roxas, pois  as duas espécies estão muito presentes na vegetação desta região de Goiás. 
Chegamos a dois mil e doze, e minhas esperanças se renovam! E com elas a sensação de que a primavera virá e irá colorir a nossa avenida seja na cor amarela ou roxa. Espero poder registrar em uma bela foto e junto a ela a realização do muito que ainda há para acontecer. Que dois mil e doze seja um ano de realizações, onde a ansiedade dê lugar ao prazer de concretizar os nossos sonhos!  Feliz 2012! 

José Carlos Machado

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